Quando é que passará esta noite interna, o universo.
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto, impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio, impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio, impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama, e recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?
É esse? É esse?
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia!
(Fernando Pessoa - 07/11/1933)
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