Quando é que passará esta noite interna, o universo.
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto, impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio, impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio, impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama, e recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?
É esse? É esse?
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia!
(Fernando Pessoa - 07/11/1933)
segunda-feira, 18 de julho de 2016
Não digas nada!
Não, nem a verdade!
Há tanta suavidade
Em nada se dizer
E tudo se entender
Tudo metade
De sentir e ver...
Não digas nada!
Deixa esquecer.
Talvez que amanhã
em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda esta viagem
Até onde quis
Ser que me agrada...
Mas ali fui feliz...
Não digas nada...
(Fernando Pessoa - 23/08/1934)
Não, nem a verdade!
Há tanta suavidade
Em nada se dizer
E tudo se entender
Tudo metade
De sentir e ver...
Não digas nada!
Deixa esquecer.
Talvez que amanhã
em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda esta viagem
Até onde quis
Ser que me agrada...
Mas ali fui feliz...
Não digas nada...
(Fernando Pessoa - 23/08/1934)
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